Por Valdemar Pinheiro
“Era para ficarmos 15 dias e acabámos por ficar 7 meses. O pessoal pensava que ia tirar umas férias, com piscina e tudo, mas enganou-se. Estávamos em 1966 e a CART 1516 acabou por dotar o aquartelamento com infraestruturas permanentes de segurança, desporto e de administração e logística, além de que, junto ao posto Norte de vigilância e controlo da ponte sobre o rio Zambeze, deixámos uma exploração agrícola, com 2.000 metros quadrados, com registo de propriedade em nome do Comando Militar de Mutarara”, recorda o coronel.
“Inicialmente, recorremos à construção de palhotas e, mais tarde, à edificação mista em troncos e zinco e blocos e zinco. Foram longos e cruéis meses de trabalho, mas vencidos os contratempos dos primeiros meses conseguimos criar as condições mínimas em conforto e funcionalidade”, lembrou o coronel.
“Foi uma das obras de orgulho
dos “Sabres Verdes”, concluiu Francisco Abranches Félix.
Já o então sargento-ajudante Etalvino Craveiro, atualmente com 92 anos bastante lúcidos, lembrou uma situação pitoresca. “Um mês, ao meter o pré nos envelopes, enganei-me e em vez de 20 escudos meti 100. O rapaz que recebeu o envelope calou-se bem calado e nada. Deve ter dado saltos de contentamento.
No mês a seguir, para testar a
rapaziada, meti num outro envelope 100 escudos e tomei nota do nome. Deixei
passar uns dias, à espera que o rapaz viesse ter comigo para devolver tamanho
pré. Qual quê. Calou-se bem calado e nada. Quando fui à procura da nota com o
nome não a encontrei e ainda hoje estou para saber quem foram os dois “sortudos”
que ficaram com 200 escudos, que era muito dinheiro na altura”.
“Apesar de tudo, a guerra no Ultramar contribuiu para solidificar
amizade, confiança e solidariedade entre camaradas - praças, sargentos e
oficiais- para todo o sempre. A prova disso está, também, e sem falar no geral
- nos encontros de antigos combatentes que passaram pelas províncias ultramarinas
- nos convívios anuais que o CART 1516 realiza, reunindo dezenas de
ex-combatentes e familiares”, explicou Mário Teixeira.
Junto ao jipe do exército francês alguns dos ex-combatentes do CART 1516 reunidos em Manique |
Um jipe adquirido ao exército francês por um português por ocasião dos
60 anos que assinalaram a batalha da Normandia, foi a “atração” num convívio
entre alguns antigos combatentes da Companhia de Artilharia 1516, os "Sabres
Verdes", em Moçambique, que teve lugar há dias em Manique de Baixo, no concelho
de Cascais.
Mário Teixeira, um dos ex-combatentes que pertenceu à CART 1516 em
Moçambique, no distrito de Tete, entre 1966 e 68, foi o anfitrião que
surpreendeu os convivas com a verdadeira relíquia militar, no final de um
excelente e bem confecionado “Polvo à Lagareiro”, pescado nas águas de Cascais.
O anfitrião Mário Teixeira fez questão de cortar o bolo sobre o capot da relíquia militar |
E foi sobre o capot do velho jipe, um “Hotchkiss-Willys”, modelo M201, curiosamente
igual ao modelo que os antigos combatentes da CART 1516 usaram no Ultramar, que
foi cortado o bolo com o símbolo da Companhia e do respetivo sabre verde, a
assinalar 52 anos idos.
Um momento, também, que serviu para recordar os longínquos tempos da
guerra e algumas situações pitorescas.
Francisco Abranches Félix, um coronel aposentado de 76 anos “bem
conservados”, recordou as passagens, então como tenente, por Mutarara e Muze e
a obra deixada pelos voluntariosos militares “Sabres Verdes”.
Construído pelo Governo da
Província, com o apoio da engenharia militar, o quartel em Mutarara possuía diversas
estruturas, entre as quais, a cerca de um quilómetro, uma piscina com bar e
esplanada.
Mutarara |
“Era para ficarmos 15 dias e acabámos por ficar 7 meses. O pessoal pensava que ia tirar umas férias, com piscina e tudo, mas enganou-se. Estávamos em 1966 e a CART 1516 acabou por dotar o aquartelamento com infraestruturas permanentes de segurança, desporto e de administração e logística, além de que, junto ao posto Norte de vigilância e controlo da ponte sobre o rio Zambeze, deixámos uma exploração agrícola, com 2.000 metros quadrados, com registo de propriedade em nome do Comando Militar de Mutarara”, recorda o coronel.
Um ano depois, em Muze, a CART 1516
voltou a deixar a sua marca e um mês depois de instalada em
Bivaque foi durante longos meses levantando, ampliando e
melhorando infraestruturas destruídas parcialmente por um incêndio, que tinha
deflagrado a 13 de maio de 1967.
Coronel Abranches Félix |
“Inicialmente, recorremos à construção de palhotas e, mais tarde, à edificação mista em troncos e zinco e blocos e zinco. Foram longos e cruéis meses de trabalho, mas vencidos os contratempos dos primeiros meses conseguimos criar as condições mínimas em conforto e funcionalidade”, lembrou o coronel.
Em Julho de 1967, tiveram início
os trabalhos de preparação para a implementação das instalações definitivas e a
progressiva construção dos edifícios, que ficariam a constituir o
aquartelamento.
Já o então sargento-ajudante Etalvino Craveiro, atualmente com 92 anos bastante lúcidos, lembrou uma situação pitoresca. “Um mês, ao meter o pré nos envelopes, enganei-me e em vez de 20 escudos meti 100. O rapaz que recebeu o envelope calou-se bem calado e nada. Deve ter dado saltos de contentamento.
Etalvino Craveiro o sargento que nunca encontrou os "sortudos" dos 100 escudos |
Mário Teixeira, o anfitrião |
Para além do anfitrião Mário Teixeira, dos coronéis aposentados Francisco
Abranches Félix e Ribeiro da Silva, este último com 84 anos também muito bem
conservados e lúcidos, e do sargento-ajudante Etalvino Craveiro, marcaram presença
neste convívio o 1º. Cabo atirador Diamantino Monteiro, 72 anos, e o soldado
atirador Manuel Jesus Pereira, 73 anos.
O jovem Tiago Teixeira tocou e encantou os convivas com a sua concertina |
A finalizar a confraternização, Mário Teixeira voltou a surpreender os
convivas com a atuação do neto - o jovem e talentoso Tiago Teixeira, de 13
anos, que voltou a demonstrar os seus dotes artísticos ao tocar alguns temas
bem populares na concertina que muito bem domina!
Algumas fotos do encontro
Algumas fotos do encontro